O que o Turismo Receptivo de Salvador quer do futuro prefeito, por José Queiróz
José Queiróz
Autonomia! Independência imediata! A Secretaria de Turismo do Estado não cuida nem deixa a administração da atividade com o município. Que seja criada a Secretaria Municipal de Turismo, que leve em conta os conhecimentos e a experiência dos profissionais do Receptivo da cidade. Salvador é um destino cultural internacional e tem responsabilidade com todo o Brasil, que está entre os 20 principais destinos desse segmento. Use o mandato, as leis, os recursos disponíveis, a determinação, e o respeito pelo eleitor.
Mas, emergencialmente, antes da alta temporada, para recuperar a presença do baiano no Pelourinho e a indústria turística do município, além dos negócios, empregos e impostos perdidos nos últimos anos, promova um mutirão de assistência social no Centro da cidade. Todo o Brasil, e os principais países emissores de turistas para Salvador, viram e noticiaram o desgoverno, o abandono, a destruição do Patrimônio da Humanidade, a indigência, a droga e os roubos que vivenciaram. Para a desonra e vergonha de seus moradores.
Ninguém quer se expor ao assédio de dependentes químicos, mendigos, vendedores ambulantes, flanelinhas e falsos guias. Tem que tirar este pessoal da rua como fez o Rio de Janeiro e outras cidades do mundo, direcionar para centros de recuperação, hospitais, sanatórios, moradias dignas, e criar espaços para os ambulantes, seja na Praça Municipal, no Terreiro de Jesus, no Largo do Pelourinho ou no Carmo, e sugerir que agencias e guias de turismo deem tempo livre para que estas pessoas possam vender e sobreviver. É terrível, constrangedor e insurportável, estas pessoas acompanhando o visitante durante todo o passeio, insistindo, alegando necessidades, implorando ajuda.
O acesso sem iluminação e limpeza, e dominado por pessoas com péssimo aspecto, atitudes grosseiras e valores exorbitantes, assustam os motoristas e impedem baianos e turistas de frequentarem o lugar. Tem que ter mais ônibus à noite, principalmente para o povo da cidade prestigiar os eventos, e interagir com os turistas que querem conhece-los! Os falsos guias nas entradas do Pelourinho e a extorsão de turistas desavisados, só são possíveis pela inoperância do Ministério do Turismo que não cumpre uma de suas funções constitucionais, que é fiscalizar.
Feito isto, o turista voltará naturalmente, sem precisar de publicidade, pois o poder de propaganda positiva e negativa do turismo é muito grande. É claro que a reforma integral do lugar precisa ser concluída, para que não se perca o título de Patrimônio da Humanidade, como já está ameaçado, e mais casarões. Além de reverter a imagem ruim do povo, gerada pelos próprios governantes, que a exemplo dos que pedem voto agora, culpam anteriores e outras instituições, prometem, mas fazem cada vez pior. O Estado precisa “requalificar-se”, adaptar-se ao turismo, não o contrário. Turismo precisa de discursos originais!
Além disso, o Centro Histórico e os demais atrativos, como Farol da Barra e Igreja do Bonfim, precisam oferecer, no mínimo, estacionamentos para carros de turismo, banheiros públicos, serviço de emergência médica, segurança e limpeza. Há muitas outras coisas a fazer nesse primeiro momento, porém sem gastos vultosos como gostam os partidos políticos. Mas, assim que as forças ocultas desinformadas, e com interesses supostamente maiores, descobrirem as maravilhas monetárias de um receptivo bem administrado em uma cidade como Salvador, incentivarão a conclusão da reforma de todo o Centro da cidade, o pior do país. Não é à toa que o turismo já é 10% do PIB mundial, e várias cidades do mundo recebem mais de 10 milhões de turistas por ano. Não é um negócio qualquer!
O município tem outras duas vocações, praia e festa, que precisam de cuidados da Prefeitura, planejamento competente e objetivo, e investimentos da iniciativa privada. É preciso facilitar o aprendizado e a produção artística e musical inicial dos baianos no Pelourinho. A eliminação pura e simples do serviço de praia foi emblemática! Ficou clara a indiferença pelo povo e seus hábitos, a desinformação da importância do serviço para manter o turista, a irresponsabilidade com a economia do município, inclusive a popular, além da falta de instituições que defendam a cidade, como oposição, formadores de opinião, imprensa e Justiça. Há honrosas exceções, mas não contam com os que hoje pedem voto de confiança.
A situação do passeio de escuna na Baía de Todos os Santos, uma das mais famosas do mundo, reflete a mentira oficial, a propaganda enganosa, a incompetência total para manter uma indústria turística! O Terminal Turístico deverá ser reformado, é verdade, mas aquelas agências e profissionais obstinados e heróicos, precisam de apoio para atualizar sua frota e seus conhecimentos. A Ponta de Nossa Senhora (de Guadalupe), na Ilha dos Frades, um dos lugares mais lindos do mundo, cada vez mais famoso, não tem infraestrutura, por conta de impasses entre a prefeitura de Salvador e o proprietário das terras. Entre eles está o Projeto Orla Brasil.
Mas, o turista que foi atraído pela propaganda, e gera dinheiro que paga salários públicos, e que não tem nada a ver com isto, está vergonhosamente atendido, sem sombra, sem cozinha visível, e banheiro a 200 metros, numa ribanceira penosa para pessoas com idade avançada e limites de saúde. E a situação está correndo o risco de ficar pior, pois o contrato com a empresa que explora o cais está vencendo, não há sinal de renovação, e a mesma já anunciou sua disposição de interditá-lo, obrigando os turistas a descerem e subirem em botes.
Itaparica tem outros dois municípios, é certo, mas Salvador vende a fama da ilha e não ajuda no receptivo de quem compra. Há que se promover um entendimento entre governos e agências para atualizar e profissionalizar o atendimento. Aliás, a própria oferta de passeios em Salvador precisa ser atualizada! Governantes, operadoras e empresários comportam-se como se tudo fosse normal, que o turista virá e gostará de qualquer maneira, pois Salvador é Salvador! Não há preocupação com instalações apropriadas para conviver com este clima e com necessidades especiais, com o profissionalismo dos garçons nas praias, com higiene, segurança alimentar e assistência médica. Tem havido casos graves de infecção intestinal!
A lista é longa, vergonhosa, e absurdamente ignorada por Domingos Leonelli, que nunca foi do turismo, e numa democracia de fato já teria sido demitido há muito tempo por incompetência e omissão. Pela Saltur, que não é secretaria, é empresa de capital misto que usa verbas públicas no seu único negócio, Carnaval, que não trás o benefício que se diz para a população, nem para o turismo. Seus dirigentes ganham dinheiro no evento para o ano inteiro, mas os tais empregos temporários não sustentam necessidades básicas nem por um mês. E a Secopa, criada para preparar a cidade para receber os turistas para a Copa de 2014, já pagou vários salários, e nada.
Nas três instituições há profissionais conhecidos e conhecedores do receptivo de Salvador e suas necessidades, que atuavam como guias de turismo, com larga experiência no trato direto com o turista, acostumados a ir ao Aeroporto, recebe-los, entrar num ônibus com a consciência de todos estes problemas, mas desenvolver um discurso e conduzir o turista de modo que a impressão seja outra, obviamente. Nesse sentido o turista chega predisposto, e Salvador encanta. Mas o visitante não é acéfalo ou bobo, pelo contrário, na maioria dos casos tem formação superior, conhecimentos gerais, senso crítico, decide por si só, usa as leis e fala.
Cidades vivem de seus recursos e vocações naturais ou criadas, mas a megalomania e a tirania dos partidos políticos, mantida com corrupção, cumplicidade e silêncio, tem causado sérios prejuízos aos municípios brasileiros que não estiverem nos planos de seus financiadores, além da ingerência nos assuntos regionais como aconteceu em Recife. Numa das últimas e patéticas aparições de João Henrique na TV, ficou claro a postura atual e revoltante do político manipulado. “Eu não sei”, “eu não sabia”, “a culpa é do outro”, “a culpa é do passado” e “eu fiz muito por Salvador”. Então, futuro prefeito, para que você quer o cargo?
O autor é agente de turismo em Salvador.